terça-feira, 18 de março de 2014

não é problema meu

Uma mulher, mãe, favelada, negra, pobre foi arrastada por uma viatura dirigida por policiais. Policiais esses que deveriam defender a mulher, mãe, favelada, negra, pobre. E de quem é a culpa: nossa!
Para cada cidadão que estaciona em vaga imprópria, a cada individuo que não devolve o troco errado, a cada criança que pega a borracha e ninguém a faz devolver, a cada suborno pago para facilitar, a cada dificuldade resolvida de maneira individual e não coletiva, a cada aluno que não sabe a matéria e passa de ano, a cada palmada não dada para não traumatizar , são tantos os momentos que nos tornamos responsáveis por um crime bárbaro como esse.
Responsabilizados e não culpados, pois para o culpado vale o perdão, alivia a alma e permite nova indulgencia. Agora reponsabilidade não, acarreta consequências e não há perdão que alivie isso. A lei do retorno é implacável, cruel e mesmo que “foi só dessa vez”, “é so um minutinho”, “todo mundo faz” o retorno virá.
Enquanto discutimos se esse ou aquele candidato é bom ou ruim, se vai ou não ter a Copa, quem deve sair no próximo paredão, a noticia da mulher negra, pobre vai enrolar peixe. Assim como enrolou peixe a do menino arrastado por bandidos. Mas essas famílias a cada vez que sentarem para a refeição lembrarão que o menino ou a mãe falaria isso ou aquilo. A cada novidade  vão imaginar como eles reagiriam. Essas famílias nunca mais serão as mesmas, mas não é problema seu.
A epidemia da Aids começou assim, só afetava os efeminados, só contaminava os excluídos até que começou a morrer ídolos das massas e pessoas com algum destaque, dessa forma começaram a pesquisar, mas não muito também, afinal a quem interessa a saúde??
O policial que teve essa atitude não pode saber o que estava fazendo, não posso imaginar que um humano, brasileiro, carioca policial tenha cometido tal ato de maneira consciente. Uso de drogas, alienação completa e absoluta de humanidade, raiva do sistema?? O que justificaria ??
O que justifica a sociedade ainda achar normal a greve de garis alcançar seu objetivo enquanto que a dos professores não? Como o menino que grita lobo os professores perderam o crédito e o valor. Mas será mesmo que os professores ainda tem valor?? Conheço alguns que sim, mas vejo muitos que poderiam ser policiais, garis e não faria muito diferença. Estariam empregados e pagariam suas contas, sem nenhum comprometimento com sua função social. Função social essa também esquecida pelo policial, pelo gari, pela mulher negra, favelada, mãe...
Quem hoje sabe e exerce seu papel social? De que sociedade estamos falando? A que liberta presos com dinheiro e acumula como lixo presos pobres, negros e analfabetos. Não são todos negros, mas são todos pobres e que os torna feios do mesmo jeito, acumulados em celas e com os direitos humanos cheios de razões. Mas e os direitos humanos dessa mãe arrastada? Quem irá acariciar seus filhos agora? O que os direitos humanos poderá fazer por ela? E por esses policiais??
Somos todos vítimas responsáveis pelo mar de lama que estamos atolados.

Filhos foram privados do carinho de sua mãe. Acabaram como muitos e serão criados pela própria sorte e possivelmente cometendo barbáries como essa um dia. Mas “não é da minha família, não tenho nada a ver com isso”.


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